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quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Era um silêncio que gritava." - Memória: Padre Antônio Henrique


No último dia 15 de junho, a Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara recebeu um acervo de documentos do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e do Arquivo Público referente ao caso do padre Antônio Henrique Pereira Neto, que foi sequestrado e morto sob tortura, em 1969, pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Em seguida, o grupo reuniu-se com o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, no Palácio dos Manguinhos, também para tratar sobre o crime e como será feito o trabalho de apuração. Entre as informações cedidas está uma denúncia oferecida em 1988 pelo ex-procurador-geral de Justiça, Telga Araújo, contra policiais da extinta Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), que teriam envolvimento com o caso. 

Acondicionadas em quatro caixas, as cópias dos 13 volumes do processo do padre Henrique foram entregues pelo procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, ao presidente da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara,  Fernando de Vasconcelos Coelho.

“Decidimos começar pelo caso do padre Henrique porque além de simbólico, já existem muitas informações levantadas, houve processo e até decisão judicial. A partir dele, vamos levantar outros processos. Já temos mais uns três ou quatro casos em vista”, informou o coordenador da comissão estadual, Fernando Coelho. O grupo também receberá da nacional uma lista de todos os pernambucanos mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar, com o objetivo de comparar os casos com os que já estão em análise em nível local.

Você sabe quem foi o Padre Antônio Henrique Pereira Neto, tão importante para abrir os trabalhos da Comissão Estadual? Antônio foi um jovem padre da Arquidiocese de Olinda e do Recife. Ligado ao arcebispo Dom Hélder Câmara, um dos nomes mais expressivos da Igreja Católica nos tempos da repressão militar brasileira, o sacerdote seguia com sua missão junto à juventude estudantil pernambucana quando o destino cruel o colocou na história do País. De jovem padre virou mártir da ditadura, regime do qual foi vítima em 1969, poucos meses após a implantação do rigoroso Ato Institucional nº 5 – o AI-5.

                           

Responsável pelo setor da Arquidiocese de Olinda e Recife que prestava assistência à jovens, o padre Henrique mantinha encontros inclusive com estudantes cassados e, em várias ocasiões, recebeu ligações telefônicas com ameaças de morte. A maioria delas partidas da organização denominada Comando de Caça aos Comunistas (CCC). O padre não se curvou às ameaças e pagou um alto preço por isso.

Henrique foi sequestrado na noite de 26 de maio, no bairro de Parnamirim,  depois de participar de uma reunião com um grupo de jovens católicos. De acordo com uma testemunha, ele acabava de sair do local do encontro, quando foi abordado por três homens armados que o levaram em um veículo de marca Rural, de cor verde e branca. Na manhã do dia 27, seu corpo foi encontrado largado na Cidade Universitária. As marcas eram de um assassinato brutal: hematomas por todo corpo, rosto desfigurado, tiros na cabeça, cordas no pescoço, sinais de facada. Um retrato sombrio da tortura.

No momento de seu assassinato, o governo militar ainda não havia instituído formalmente a censura à imprensa, mas, mesmo assim, os jornais foram proibidos de noticiar o assassinato do padre. A notícia só foi dada pelo Boletim Arquidiocesano (um informativo mimeografado da Igreja) e lida pelos padres de todas as paróquias recifenses. Mesmo sem notícias na imprensa, cerca de 20 mil pessoas acompanharam o enterro, numa caminhada entre igreja do Espinheiro e o cemitério da Várzea.

Fichas com dados do padre, sobre morte e possíveis culpados. (clique para ampliar) 


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Em 1989, numa entrevista para a emissora de televisão, Dom Hélder Câmara revelaria que, além de assassinar o Padre Henrique, a ditadura militar também proibiu toda e qualquer manifestação de protesto contra aquela violência:
- Quando nós chegávamos ao cemitério, eu recebi um aviso de que, se no cemitério houvesse a menor palavra contra os militares, a palavra de ordem era reagir de vez. Aí, quando terminou o enterro, eu disse: meus irmãos, tudo o que nós poderíamos fazer aqui na terra pelo nosso irmão Padre Henrique, nós já fizemos. Vamos rezar mais um Pai Nosso e, depois, vamos fazer uma experiência que nunca foi feita aqui em nossa terra: vamos oferecer a homenagem do silêncio, vamos sair do cemitério sem uma palavra, silêncio profundo!... Nunca eu ouvi um silêncio tão impressionante. Era um silêncio que gritava.







fontes: JC, Folha. 


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