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quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr Fernandes: o humor e a ironia de luto

O escritor carioca Millôr Fernandes morreu, às 21h desta terça-feira (27), em casa, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Segundo Ivan Fernandes, filho do escritor, ele teve falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca. Millôr tinha dois filhos, Ivan e Paula, e um neto, Gabriel. Ele foi casado com Wanda Rubino Fernandes. De acordo com sua certidão, Millôr nasceu no dia 27 de maio de 1924, embora ele dissesse que a data correta era 16 de agosto do ano anterior.

Profissional multimídia escreveu peças de teatro, livros, desenhava, entre outros afazeres. O que Millôr contribuiu para o povo brasileiro durante a ditadura? Ele foi um dos fundadores do O Pasquim, que fazia severas críticas ao regime militar, com muita graça e ironia.

O projeto nasceu no fim de 1968, após uma reunião entre o cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral; o trio buscava uma opção para substituir o tablóide humorístico A carapuça, editado pelo recém-falecido escritor Sérgio Porto.O nome, que significa "jornal difamador, folheto injurioso", foi sugestão de Jaguar. "Terão de inventar outros nomes para nos xingar", disse ele, já prevendo as críticas de que seriam alvo.

Com o tempo figuras de destaque na imprensa brasileira, como Ziraldo, Millôr, Prósperi, Claudius e Fortuna, se juntaram ao time, e a primeira edição finalmente saiu em 26 de junho de 1969.

No fim da década de 1960, em função de uma entrevista polêmica com Leila Diniz, foi instaurada a censura prévia aos meios de comunicação no país, por um decreto que ficou conhecido pelo nome da atriz. Em novembro de 1970 a redação inteira do O Pasquim foi presa depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga, (de autoria de Pedro Américo).

 Os militares esperavam que o semanário saísse de circulação e seus leitores perdessem o interesse, mas durante todo o período em que a equipe esteve encarcerada — até fevereiro de 1971 — O Pasquim foi mantido sob a editoria de Millôr Fernandes (que escapara à prisão), com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e diversos intelectuais cariocas.

As prisões continuariam nos anos seguintes, e na década de 1980 bancas que vendiam O Pasquim passaram a ser alvo de atentados a bomba. Aproximadamente metade dos pontos de venda decidiu não mais repassar a publicação, temendo ameaças. Era o início do fim para o Pasquim.

O jornal ainda sobreviveria à abertura política de 1985, mesmo com o surgimento de inúmeros jornais de oposição e de novos conceitos de humor. O Pasquim continuaria ativo até a década de 1990. No carnaval carioca de 1990 toda a equipe de O Pasquim foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz com o enredo "Os Heróis da Resistência".

A última edição, de número 1 072, foi publicada em 11 de novembro de 1991.
Homem polêmico, às vezes soltava das suas, dizendo que se decepcionou com Walt Disney, que nem sua própria assinatura criara. Achava Machado de Assis um bobo, assim como os livros de Fernando Henrique Cardoso, além de achar que o ex-presidente Lula tinha algumas atitudes repressivas.

Não conhece muito sobre Millôr? Então conheça alguns de seus pensamentos e de suas caricaturas.

“A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo que lhe ensinaram, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina."

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“O último refúgio do oprimido é a ironia, e nenhum tirano, por mais violento que seja, escapa a ela. O tirano pode evitar uma fotografia, não pode impedir uma caricatura. A mordaça aumenta a mordacidade.”

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“O homem é um animal que adora tanto as novidades que se o rádio fosse inventado depois da televisão haveria uma correria a esse maravilhoso aparelho completamente sem imagem.”

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“Algumas pessoas matam. As outras pessoas se satisfazem lendo a notícia dos assassinatos.”







segunda-feira, 12 de março de 2012

Memórias de Gregório Bezerra


“Não luto contra pessoas, luto contra o sistema que explora e esmaga a maioria do povo”.
(Gregório Bezerra. 1900 – 1983)



Olá!

Antes de começar a história deste post, queria agradecer a minha colega, jornalista, assessora Cidinha França que fez questão de me passar às informações sobre isso.

Muitos personagens marcaram a luta contra o Regime militar de 1964 a 1985. Muitos nomes se sobressaíram por sua enorme vontade de ir além.  E, um desses nomes é o de Gregório Bezerra. E é, buscando resgatar este ícone da época da Ditadura que será lançado, nesta terça-feira (13), na quadra de Esportes da Escola Joaquim Nabuco – Centro de Panelas, o livro “GREGÓRIO BEZERRA – MEMÓRIAS”. A partir das 19 horas, o público poderá ter uma grande aula de história nacional contando, além da presença de Jurandir Bezerra, filho de Gregório Bezerra, Roberto Arraes que ministrará uma palestra à cerca da trajetória de vida de Gregório Bezerra.

O leitor poderá encontrar no livro, depoimentos que abrangem o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979. No exílio começou a escrever sua autobiografia. A primeira publicação deste livro foi em 1979, e nesta nova edição conta com fotografias e textos inéditos.

O livro conta com a contribuição decisiva de Jurandir Bezerra, filho de Gregório, que conservou a memória de seu pai; da historiadora Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, que assina a apresentação da nova edição; de Ferreira Gullar na quarta capa; e de Roberto Arraes no texto de orelha. Há também a inclusão de depoimentos de Oscar Niemeyer, Ziraldo, da advogada Mércia Albuquerque e do governador de Pernambuco (e neto de Miguel Arraes) Eduardo Campos, entre muitos outros.

Nascido em Panelas, no Agreste pernambucano, a 180 km de Recife, Gregório era filho de camponeses pobres, que perdeu ainda na infância, e com cinco anos de idade já trabalhava com a enxada na lavoura de cana-de-açúcar. Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira, e por conta disso totalizou 23 anos de cárcere em diversos presídios e épocas.

Não foi um homem de letras, mas um grande observador e um brilhante contador de histórias. Foi deputado federal (o mais votado em 1946) pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), ferrenho combatente do regime militar, e por essa razão protagonizou uma das cenas mais brutais da recém-instalada ditadura pós-golpe de 1964: capturado, foi arrastado por seus algozes pelas ruas do Recife, com as imagens tendo sido veiculadas pela TV no então Repórter Esso. A selvageria causou tamanha comoção que os registros da tortura jamais foram encontrados nos arquivos do exército. 

Sua história é incrível. Importante para o estudo da história política nacional. Um bom evento.

Serviço
Lançamento de nova edição do livro “Gregório Bezerra – Memórias”
Onde: quadra de Esportes da Escola Joaquim Nabuco – Centro, Panelas(PE)
Quando: 13 de março de 2012
Hora: 19h



sexta-feira, 9 de março de 2012

Reconhecimento das Mulheres - Repare Bem e Vou Contar para os Meus Filhos

No último dia oito de março, como muitos sabem, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. E, este ser, de tão enorme força e importante para a construção da história de todo o mundo também teve papel importante durante a Ditadura Militar brasileira. E, dando o real valor a estas mulheres, a Comissão de Anistia está realizando, desde ontem, uma programação especial para as mulheres.

“A comissão resolveu fazer essa atividade especial em homenagem às mulheres que foram perseguidas durante a ditadura militar”, disse Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia.

Dois pontos desta programação me chamaram a atenção. Tratam-se dos filmes-documentários “Repare Bem” e “Vou Contar para Meus Filhos” e trazem ditadura como temática, ligado às mulheres. Logo abaixo, falo um pouco mais desses dois vídeos:


Repare Bem

O pré-lançamento deste filme foi no próprio dia 8 e conta com o roteiro e direção da cineasta portuguesa Maria de Medeiros (foto). Apoiado pelo projeto Marcas da Memória, mantido pela comissão para promover o direito à verdade e à memória, o documentário trata da história de três gerações de mulheres perseguidas políticas, a partir do relato de Denize Crispim e Eduarda Leite.

A história de "Repare Bem", enfoca a vida de Eduarda, que cresce sem conhecer o país de origem e sem conhecer o pai, Eduardo Leite, o "Bacuri", morto pela ditadura após 109 dias de tortura. Eduarda só conseguiu incluir o nome do pai na certidão de nascimento em 2009, por determinação da Comissão de Anistia. Esse direito foi negado até publicação da portaria de anistia da sua mãe, Denize Crispim.


Denize é filha da ex-presa política Encarnación Lopes Perez e do militante comunista e deputado constituinte, em 1946, José Maria Crispim. Seu irmão Joelson foi assassinado aos 22 anos pela ditadura militar e sua mãe foi presa. Denize, após se envolver com Eduardo Leite, ficou grávida de Eduarda, que nasceu em um hospital militar. O pai da criança foi torturado e assassinado e o casal nunca mais se viu. Denize tentou reconstruir a vida no Chile e, depois do golpe de Pinochet, seguiu para a Itália com a filha como clandestina.

O filme, resultado do projeto “Marcas da Memória”, mantido pela Comissão de Anistia, será uma exibição especial, já que seu lançamento oficial só acontece em outubro, em um festival. Após a sessão, haverá um debate com a diretora do filme.


Vou Contar para Meus Filhos

Já hoje (sexta-feira, 09), será lançado outro documentário produzido pelo Projeto “Marcas da Memória” em parceria Grupo Tortura Nunca Mais de Pernambuco. Intitulado “Vou Contar para os meus Filhos”, o documentário aborda o reencontro das 24 ex-presas políticas, entre 69 e 79, na Colônia Penal de Recife. O evento tem entrada Catraca Livre.

A diretora Tuca Siqueira traz Vou contar para os meus filhos, que reconstitui o cenário existente entre os anos de 1964 e 1985, quando a ditadura regeu o Brasil.

Abaixo, segue o teaser do documentário.


Abraços!