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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Seu sissi e o atentado

Quando conto a algumas pessoas que quero fazer meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] sobre histórias de personagens da Ditadura Militar, em Caruaru, muitos me questionam: “Mas aconteceu alguma coisa aqui?”. Acho que essa dúvida paira na cabeça de muitas pessoas pelo fato destas não conhecerem e não se interessarem o tanto o quanto seria importante, pelo passado da nossa cidade. Falo isso porque todos os personagens que entrevistei até agora sempre têm histórias fascinantes e que se enquadram no cenário do regime militar, tanto de Pernambuco, como nacional. Vou contar um exemplo disto.

O ano era de 1966 e Francisco de Assis Claudino seguia com sua vida na cidade de Belo Jardim. Em seu passado,memórias tristes de prisões, perseguições, privações por causa da Ditadura Militar. Os anos eram de chumbo, e Seu Sissi, como ainda hoje é conhecido, resolveu tentar recomeçar sua vida longe da cidade de Caruaru, onde viu sua vida virar de pernas pro ar. Trabalhava em uma loja de crédito, morava em uma ‘pousada’ e assim tentava se re-eguer.


Até que, um dia, enquanto estava no trabalho, alguns elementos chegaram na pousada onde morava e fizeram perguntas sobre ele para o dono da pousada.O assunto era delicado,pensavam que Seu Sissi estivesse envolvido naquela grande confusão, um marco da história da ditadura em Pernambuco e que teve repercussão nacional. Mas Assis foi inocentado e tudo esclarecido.

O fato em questão era o Atentado ao Aeroporto dos Guararapes, que aconteceu no dia 25 de julho de 1966. Na manhã do dia 25, o Marechal Costa e Silva, então candidato à Presidência da República, era esperado por cerca de 300 pessoas. Às 08:30h, o serviço de som anunciou que, em virtude de pane no avião, ele estava deslocando-se por via terrestre de João Pessoa até Recife e iria, diretamente, para o prédio da SUDENE. Esse comunicado provocou o início da retirada do público. O guarda-civil Sebastião Tomaz de Aquino, o "Paraíba", também jogador de futebol do Santa Cruz, percebeu uma maleta escura abandonada junto à livraria "SODILER", localizada no saguão do aeroporto. Julgando que alguém a havia esquecido, pegou-a para entregá-la no balcão do Departamento de Aviação Civil (DAC). Ocorreu uma forte explosão. Passados os primeiros momentos de pavor, viu-se que o atentado vitimou 16 pessoas.

Morreram o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes. O guarda-civil "Paraíba" feriu-se no rosto e nas pernas, o que resultou, alguns meses mais tarde, na amputação de sua perna direita. O então Tenente-Coronel do Exército, Sylvio Ferreira da Silva, sofreu fratura exposta do ombro esquerdo e amputação de quatro dedos da mão esquerda.

Ficaram, ainda, feridos os advogados Haroldo Collares da Cunha Barreto e Antonio Pedro Morais da Cunha, os funcionários públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro, os estudantes José Oliveira Silvestre, Amaro Duarte Dias e Laerte Lafaiete, a professora Anita Ferreira de Carvalho, a comerciária Idalina Maia, o guarda-civil José Severino Pessoa Barreto, o deputado federal Luiz de Magalhães Melo e Eunice Gomes de Barros e seu filho, Roberto Gomes de Barros, de seis anos de idade.

Na ocasião, sem provas conclusivas o atentado foi atribuído a militantes do Partido Comunista Revolucionário (PRC) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Hoje, sabe-se que foi obra da Ação Popular (AP). Mas,por que procuraram Seu Sissi?

“Não só me procuraram, mas também qualquer pessoa que tivesse alguma ligação contrária ao governo. Foi como uma investigação de guerra, todos eram suspeitos”

Assis só soube que suspeitaram dele anos depois, na mesma época que descobriu que o tal proprietário da pousada era também informante dos militares e cabia a ele vigiar todos os passos de Assis. Um personagem que à primeira vista parece ser um simples senhor, mas que teve sue nome também envolvido em um atentado contra um daqueles que governo país durante a Ditadura. Mas este é só mais um capítulo, uma passagem.

Seu Assis ainda tem muita história pra contar....

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