Boa Tarde!
Como hoje é o Dia Mundial do Rock, resolvi tratar deste tema por aqui. Se você não vê nenhuma ligação do rock com a Ditadura Militar no Brasil, trago para você alguns vídeos do que era produzido no cenário ‘roqueiro’ dos anos 70. Muito se fala e sabe do rock dos anos 80 no Brasil, mas na década anterior, o rock nos apresentou formas mais que criativas. E também, como muitas outras áres artíticas, sofreu com a repressão da ditadura.
Encontrei este artigo Ronaldo Rodrigues, no site Alquimia do Rock falando mais sobre esta relação do rock com a ditadura. [http://www.alquimiarockclub.com.br/alem-dos-cogumelos/1904/ ]
“Falar de rock no Brasil durante a década de 70 passa, irremediavelmente, por falar também de história e política. A fatalidade histórica que foi a ditadura militar no período 1964-1985 foi a forja na qual foi conformada a “cara” sofrida e suada de nosso rock e também foi a pá que cavou a sepultura de muitos jovens talentos. Outro fator que é fundamental a se analisar na história do nosso rock durante o período, apesar dos narizes torcidos dos mais radicais, é a MPB. Chega um ponto em que é praticamente impossível dissociar rock de MPB nos anos 70, numa via de dupla influência e muitas transas."
Selecionei alguns vídeos que trazem preciosidades do rock nacional dos anos 1970. Além, de um clipe do Alice Cooper que passou com suas turnês algumas vezes durante essa década do Brasil, para a alegria dos roqueiros da época.
Video 1- Alice Cooper - teenage Lament (1974)
2- Os Mutantes - ando meio desligado
3- Raul Seixas - Eu nasci há 10 mil anos atrás (1976)
4- Módulo 100 - Não fale com as paredes (1970)
5- Bolha - Sem nada (1972)
quarta-feira, 13 de julho de 2011
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Afasta de mim esse cálice, pai.
Boa Tarde!
Estou lendo o livro ‘Histórias de canções: Chico Buarque’ de Wagner Homem e achei uma passagem interessante sobre uma música mais interessante e que tem muito a ver com o tema deste blog. A música é ‘Cálice’, composta por Gilberto Gil e Chico Buarque, em 1973. Segue trecho do livro, e letra da música, além de vídeo que retrata o momento relatado pelo trecho:
“Composta para o show Phono 73, realizado em maio de 1973, no Anhembi, São Paulo, a música seria cantada pela dupla de autores. Gil mostrou a Chico a primeira estrofe e o refrão “Pai, afasta de mim esse cálice”, referência à data em que os escrevera, uma Sexta-feira Santa. O parceiro viu, mais do que depressa, o jogo de palavras “cálice x cale-se”. Foi necessário apenas mais um encontro para que terminassem a canção de quatro estrofes – a primeira e a terceira de Gil, e as outras de Chico.
No dia do show, souberam que a música havia sido proibida. Decidiram cantá-la sem letra, entremeada com palavras desconexas. Desta vez, porém, a censura contou com a colaboração da própria gravadora que organizava o espetáculo e que operou com truculência. Assim que começaram, o microfone de Chico foi desligado. Irritado, ele buscou outro microfone, que também foi desativado – e assim sucessivamente, até que se rendeu, dizendo: “Vamos ao que pode”, e cantou ‘Baioque’.
Quando, em 1978, a canção foi liberada, Chico a incluiu em seu LP, e aí a censura veio de lugares antes inimagináveis: bispos da mesma Igreja que – através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – criticava a existência, em toda América Latina, de uma doutrina de segurança nacional que castrava as liberdades individuais proibiram a execução da música durante as missas.
Quinze anos depois do ocorrido, falando ao Correio Braziliense, Chico comentava as distorções que a censura provocava em todos os níveis:
“Às vezes, eu mesmo não sei o que eu quis dizer com algumas metáforas de músicas como ‘Cálice’, por exemplo. [...] naquela época havia uma forçação de barra muito grande, tanto a favor quanto contra. Ambos os lados liam politicamente o que não era. [...] Já disseram que o verso ‘de muito gorda a porca já não anda’, de ‘Cálice’, era uma crítica ao Delfim Neto, que era ministro. E gordo [risos].” Indagado sobre o real significado, respondeu: “Não faço a mínima ideia. [Risos] esse verso é do Gil.”
Segue a letra de Cálice:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Segue link do vídeo com o trecho de Cálice sendo tocado [ ou uma tentativa disso] no Anhembi.
http://www.youtube.com/watch?v=vOGEV0W9rok
Estou lendo o livro ‘Histórias de canções: Chico Buarque’ de Wagner Homem e achei uma passagem interessante sobre uma música mais interessante e que tem muito a ver com o tema deste blog. A música é ‘Cálice’, composta por Gilberto Gil e Chico Buarque, em 1973. Segue trecho do livro, e letra da música, além de vídeo que retrata o momento relatado pelo trecho:
“Composta para o show Phono 73, realizado em maio de 1973, no Anhembi, São Paulo, a música seria cantada pela dupla de autores. Gil mostrou a Chico a primeira estrofe e o refrão “Pai, afasta de mim esse cálice”, referência à data em que os escrevera, uma Sexta-feira Santa. O parceiro viu, mais do que depressa, o jogo de palavras “cálice x cale-se”. Foi necessário apenas mais um encontro para que terminassem a canção de quatro estrofes – a primeira e a terceira de Gil, e as outras de Chico.
No dia do show, souberam que a música havia sido proibida. Decidiram cantá-la sem letra, entremeada com palavras desconexas. Desta vez, porém, a censura contou com a colaboração da própria gravadora que organizava o espetáculo e que operou com truculência. Assim que começaram, o microfone de Chico foi desligado. Irritado, ele buscou outro microfone, que também foi desativado – e assim sucessivamente, até que se rendeu, dizendo: “Vamos ao que pode”, e cantou ‘Baioque’.
Quando, em 1978, a canção foi liberada, Chico a incluiu em seu LP, e aí a censura veio de lugares antes inimagináveis: bispos da mesma Igreja que – através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – criticava a existência, em toda América Latina, de uma doutrina de segurança nacional que castrava as liberdades individuais proibiram a execução da música durante as missas.
Quinze anos depois do ocorrido, falando ao Correio Braziliense, Chico comentava as distorções que a censura provocava em todos os níveis:
“Às vezes, eu mesmo não sei o que eu quis dizer com algumas metáforas de músicas como ‘Cálice’, por exemplo. [...] naquela época havia uma forçação de barra muito grande, tanto a favor quanto contra. Ambos os lados liam politicamente o que não era. [...] Já disseram que o verso ‘de muito gorda a porca já não anda’, de ‘Cálice’, era uma crítica ao Delfim Neto, que era ministro. E gordo [risos].” Indagado sobre o real significado, respondeu: “Não faço a mínima ideia. [Risos] esse verso é do Gil.”
Segue a letra de Cálice:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Segue link do vídeo com o trecho de Cálice sendo tocado [ ou uma tentativa disso] no Anhembi.
http://www.youtube.com/watch?v=vOGEV0W9rok
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Seu sissi e o atentado
Quando conto a algumas pessoas que quero fazer meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] sobre histórias de personagens da Ditadura Militar, em Caruaru, muitos me questionam: “Mas aconteceu alguma coisa aqui?”. Acho que essa dúvida paira na cabeça de muitas pessoas pelo fato destas não conhecerem e não se interessarem o tanto o quanto seria importante, pelo passado da nossa cidade. Falo isso porque todos os personagens que entrevistei até agora sempre têm histórias fascinantes e que se enquadram no cenário do regime militar, tanto de Pernambuco, como nacional. Vou contar um exemplo disto.
O ano era de 1966 e Francisco de Assis Claudino seguia com sua vida na cidade de Belo Jardim. Em seu passado,memórias tristes de prisões, perseguições, privações por causa da Ditadura Militar. Os anos eram de chumbo, e Seu Sissi, como ainda hoje é conhecido, resolveu tentar recomeçar sua vida longe da cidade de Caruaru, onde viu sua vida virar de pernas pro ar. Trabalhava em uma loja de crédito, morava em uma ‘pousada’ e assim tentava se re-eguer.
Até que, um dia, enquanto estava no trabalho, alguns elementos chegaram na pousada onde morava e fizeram perguntas sobre ele para o dono da pousada.O assunto era delicado,pensavam que Seu Sissi estivesse envolvido naquela grande confusão, um marco da história da ditadura em Pernambuco e que teve repercussão nacional. Mas Assis foi inocentado e tudo esclarecido.
O fato em questão era o Atentado ao Aeroporto dos Guararapes, que aconteceu no dia 25 de julho de 1966. Na manhã do dia 25, o Marechal Costa e Silva, então candidato à Presidência da República, era esperado por cerca de 300 pessoas. Às 08:30h, o serviço de som anunciou que, em virtude de pane no avião, ele estava deslocando-se por via terrestre de João Pessoa até Recife e iria, diretamente, para o prédio da SUDENE. Esse comunicado provocou o início da retirada do público. O guarda-civil Sebastião Tomaz de Aquino, o "Paraíba", também jogador de futebol do Santa Cruz, percebeu uma maleta escura abandonada junto à livraria "SODILER", localizada no saguão do aeroporto. Julgando que alguém a havia esquecido, pegou-a para entregá-la no balcão do Departamento de Aviação Civil (DAC). Ocorreu uma forte explosão. Passados os primeiros momentos de pavor, viu-se que o atentado vitimou 16 pessoas.
Morreram o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes. O guarda-civil "Paraíba" feriu-se no rosto e nas pernas, o que resultou, alguns meses mais tarde, na amputação de sua perna direita. O então Tenente-Coronel do Exército, Sylvio Ferreira da Silva, sofreu fratura exposta do ombro esquerdo e amputação de quatro dedos da mão esquerda.
Ficaram, ainda, feridos os advogados Haroldo Collares da Cunha Barreto e Antonio Pedro Morais da Cunha, os funcionários públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro, os estudantes José Oliveira Silvestre, Amaro Duarte Dias e Laerte Lafaiete, a professora Anita Ferreira de Carvalho, a comerciária Idalina Maia, o guarda-civil José Severino Pessoa Barreto, o deputado federal Luiz de Magalhães Melo e Eunice Gomes de Barros e seu filho, Roberto Gomes de Barros, de seis anos de idade.
Na ocasião, sem provas conclusivas o atentado foi atribuído a militantes do Partido Comunista Revolucionário (PRC) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Hoje, sabe-se que foi obra da Ação Popular (AP). Mas,por que procuraram Seu Sissi?
“Não só me procuraram, mas também qualquer pessoa que tivesse alguma ligação contrária ao governo. Foi como uma investigação de guerra, todos eram suspeitos”
Assis só soube que suspeitaram dele anos depois, na mesma época que descobriu que o tal proprietário da pousada era também informante dos militares e cabia a ele vigiar todos os passos de Assis. Um personagem que à primeira vista parece ser um simples senhor, mas que teve sue nome também envolvido em um atentado contra um daqueles que governo país durante a Ditadura. Mas este é só mais um capítulo, uma passagem.
Seu Assis ainda tem muita história pra contar....
O ano era de 1966 e Francisco de Assis Claudino seguia com sua vida na cidade de Belo Jardim. Em seu passado,memórias tristes de prisões, perseguições, privações por causa da Ditadura Militar. Os anos eram de chumbo, e Seu Sissi, como ainda hoje é conhecido, resolveu tentar recomeçar sua vida longe da cidade de Caruaru, onde viu sua vida virar de pernas pro ar. Trabalhava em uma loja de crédito, morava em uma ‘pousada’ e assim tentava se re-eguer.
Até que, um dia, enquanto estava no trabalho, alguns elementos chegaram na pousada onde morava e fizeram perguntas sobre ele para o dono da pousada.O assunto era delicado,pensavam que Seu Sissi estivesse envolvido naquela grande confusão, um marco da história da ditadura em Pernambuco e que teve repercussão nacional. Mas Assis foi inocentado e tudo esclarecido.
O fato em questão era o Atentado ao Aeroporto dos Guararapes, que aconteceu no dia 25 de julho de 1966. Na manhã do dia 25, o Marechal Costa e Silva, então candidato à Presidência da República, era esperado por cerca de 300 pessoas. Às 08:30h, o serviço de som anunciou que, em virtude de pane no avião, ele estava deslocando-se por via terrestre de João Pessoa até Recife e iria, diretamente, para o prédio da SUDENE. Esse comunicado provocou o início da retirada do público. O guarda-civil Sebastião Tomaz de Aquino, o "Paraíba", também jogador de futebol do Santa Cruz, percebeu uma maleta escura abandonada junto à livraria "SODILER", localizada no saguão do aeroporto. Julgando que alguém a havia esquecido, pegou-a para entregá-la no balcão do Departamento de Aviação Civil (DAC). Ocorreu uma forte explosão. Passados os primeiros momentos de pavor, viu-se que o atentado vitimou 16 pessoas.
Morreram o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Régis de Carvalho e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes. O guarda-civil "Paraíba" feriu-se no rosto e nas pernas, o que resultou, alguns meses mais tarde, na amputação de sua perna direita. O então Tenente-Coronel do Exército, Sylvio Ferreira da Silva, sofreu fratura exposta do ombro esquerdo e amputação de quatro dedos da mão esquerda.
Ficaram, ainda, feridos os advogados Haroldo Collares da Cunha Barreto e Antonio Pedro Morais da Cunha, os funcionários públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro, os estudantes José Oliveira Silvestre, Amaro Duarte Dias e Laerte Lafaiete, a professora Anita Ferreira de Carvalho, a comerciária Idalina Maia, o guarda-civil José Severino Pessoa Barreto, o deputado federal Luiz de Magalhães Melo e Eunice Gomes de Barros e seu filho, Roberto Gomes de Barros, de seis anos de idade.
Na ocasião, sem provas conclusivas o atentado foi atribuído a militantes do Partido Comunista Revolucionário (PRC) e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Hoje, sabe-se que foi obra da Ação Popular (AP). Mas,por que procuraram Seu Sissi?
“Não só me procuraram, mas também qualquer pessoa que tivesse alguma ligação contrária ao governo. Foi como uma investigação de guerra, todos eram suspeitos”
Assis só soube que suspeitaram dele anos depois, na mesma época que descobriu que o tal proprietário da pousada era também informante dos militares e cabia a ele vigiar todos os passos de Assis. Um personagem que à primeira vista parece ser um simples senhor, mas que teve sue nome também envolvido em um atentado contra um daqueles que governo país durante a Ditadura. Mas este é só mais um capítulo, uma passagem.
Seu Assis ainda tem muita história pra contar....
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