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segunda-feira, 23 de maio de 2011

O direito de conhecer nosso passado.

Bom dia.

Fiquei um tempinho sem escrever, quero pedir sinceras desculpas, mas o próprio TCC e o trabalho tomaram bastante meu tempo por esses dias. E, através deste blog quero manifestar também um apelo.

Nesta segunda-feira (23) fiquei sabendo que o governador do estado do Piauí, Wilson Martins determinou a abertura de todos os documentos produzidos pelo extinto DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Estado. O decreto do governador coloca à disposição do interesse público os documentos das unidades de inteligência das polícias Civil e Militar do Estado, pelas assessorias de informação dos órgãos e entidades da Administração Pública Estadual.A partir de agora qualquer pessoa pode ter acesso aos documentos produzidos no Piauí durante o período da Ditadura Militar. Dentro de seis meses todos os documentos que ainda estiverem sob custódia dos órgãos do Estado devem ser entregues ao Arquivo Público do Piauí, passando a integrar a rede nacional de arquivos da ditadura.

Achei esta uma iniciativa muito louvável, pois assim o povo pode conhecer sua própria história. E esta é a intenção do meu livro. De poder fazer valer o direito de todos os caruaruenses de conhecer sua própria história e daqueles que lutaram para que hoje em dia, nós possamos nos expressar livremente, possamos votar e exercer nosso livre arbitro de forma plena (ou quase).
Hoje existem iniciativas como a citada acima, que fazem a gente perceber o quanto é importante não deixar o passado pra trás. O site criado pelo Governo Federal, Memórias Reveladas (http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/) ainda tem um arquivo pequeno, mas qualquer passo, mesmo pequeno, nos ajuda a perceber que o governo está abrindo os olhos. Depois do governo do Lula – que foi perseguido político – e agora com Dilma – também perseguida, guerrilheira e presa pelo Regime Militar – percebe-se um esforço para que se conheçam as verdades dos porões pós-golpe de 1964. Também se planeja a criação da Comissão da Verdade. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias aprovou na quarta-feira (16) a realização de audiência pública para discutir a criação da Comissão Nacional da Verdade, prevista no Projeto de Lei 7376/10, do Executivo. Polêmica dentro e fora do governo, a proposta diz que a comissão terá o objetivo de esclarecer casos de violação de direitos humanos ocorridos no período da ditadura.

Espero que o governador do estado de Pernambuco, Eduardo Campos, neto de preso, perseguido e exilado político da Ditadura Miguel Arras, possa também lutar para que a história do estado não se perca, Para que as novas, a minha geração, e as futuras possam valorizar a luta de quem não desistiu da democracia.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Pra não dizer que não falei de Vandré





Boa Tarde,

Ao entrevistar os personagens do meu TCC, muitos tocaram no mesmo ponto: a música "Para não dizer que não falei das flores" de Geraldo Vandré. Mas, o que essa música tem de tão especial?

Ela foi lançada durante o III Festival Internacional da Canção, em 1968. A música, conhecida também por "Caminhando", foi um estrodoso sucesso, em um ano quando a Ditadura Militar exercia seu lado mais repressor e sombrio.Foi lançado no LP Canto Geral, do mesmo ano.

Interpretada pelo próprio Vandré, a música tornou-se um hino de resistência para aqueles que faziam oposição ao regime militar instaurado no Brasil. Por seu conteúdo que inspirou muitos, foi censurada pelo governo militar, mas já estava consagrada pelos brasileiros.

O Refrão, que diz "Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer" foi interpretado como um ultimato a opositores da Ditadura a entrarem na luta armada. No festival a música ficou em segundo lugar, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim.  Sabiá foi vaiada pelas pessoas presentes no festival, exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré.

"No meu interrogatório, quando fui preso, me perguntaram porque eu gostava tanto de cantar e tocar a música de Geraldo Vandré. Me questionaram aquilo porque sabiam que era o hino dos que eram contra à ditadura" (Edson Siqueira)

Depois desse sucesso, Vandré entrou em um ostracismo musical, só voltando a compor em 1974, gerando muita polêmica ao escrever a música Fabiana, em homenagem às Forças Áreas Brasileiras.

Muitos boatos dizem que ele foi ameaçado pelos militares, tortuado, preso e fez um acordo para voltar ao Brasil: não compor canções como "Para não dizer que não falei das flores". Hoje, ele nega tudo e continua sem aparecer no cenário cultural. Ele aindadiz que o hino de protesto, que até hoje é usado para se fazer ouvir e arrastar multidões, não tinha cunho político. Aliás, afirma que nunca protestou ou se aliou com o governo militar.

A cantora Simone foi a primeira artista a cantar "Pra não dizer que não falei de flores após do fim da censura."

Leia entrevista que ele deu, em 2000, com exclusividade para o UOL:
http://cliquemusic.uol.com.br/materias/ver/geraldo-vandre-rompe-silencio

veja a letra da música e tirem suas próprias conclusões:

Pra não dizer que não falei das flores
 Geraldo Vandré

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria ou viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.


Abraço

domingo, 8 de maio de 2011

Uma mãe de exemplo

Hoje, 08 de maio de 2011, estamos comemorando o Dia das Mães. E nesta data tão especial para muita gente, quero dar uma dica para os leitores do blog. Sem sair do tema de discussão, mas proporcionando um momento de muita diversão, quero sugerir um filme para você assistir com sua mãe, ou lembrando dela.

Conhecem a história de Zuzu Angel? Uma mineira que morou no Rio de Janeiro e começou sua vida costurando roupas para seus familiares e virou um grande nome no mundo da moda e da resistência e luta contra a Ditadura Militar. No início dos anos 1970 consegue abrir sua primeira loja, em Ipanema e fica muito conhecida. Antes conheceu, em meio a seus desfiles o americano Norman Jones, e passam a ser namorados. Após alguns anos juntos, voltam para o Brasil e se casam, e acabam se mudando para Salvador, onde ela morou muitos anos. Lá Zuzu engravidou e deu a luz a seu filho, chamado Stuart Edgart.

Seu filho Stuart, nos anos 1970, já adulto, começou a lutar contra a ditadura militar e, igual a muitos, foi preso pelo DOI-CODI e desapareceu. A partir daí, Zuzu entraria em uma guerra contra o regime pela recuperação do corpo de seu filho, envolvendo até os Estados Unidos, país de seu ex-marido e pai de Stuart. Foram anos em busca do corpo do filho, anos e anos de luta e sofrimento, mas ela não pôde dar um enterro a seu amado filho, pois o corpo de Stuart nunca foi encontrado.

Zuzu infelizmente não conseguiu seguir com sua luta. Morreu em um acidente de carro, no dia 14 de abril de 1976, de forma muito suspeita. A força da luta desta mulher para encontrar o filho, ou o corpo dele, e para denunciar as atrocidades da Ditadura despertou a ira de muitos. O caso de Zuzu foi tratado pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, no processo de número 237/96. O governo brasileiro assumiu, em 1998, a participação do Estado em sua morte.

Em 2006 o diretor Sérgio Rezende dirigiu o filme Zuzu Angel. Que tal você assistir com sua mãe, um filme emocionante, com atores e interpretações maravilhosos? Com certeza você vai se emocionar e perceber o quanto àqueles eram anos complicados para muitas mães.

Ainda existem muitas mães e famílias que não sabem o paradeiro daquele filho, filha, marido, esposa, irmão, pai e mãe. Desejo a estes, muita paz de espírito e para todas as mães, principalmente a minha, um FELIZ DIA DAS MÃES.

Abraços.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A juventude e a Ditadura





Olá!

Primeiramente quero pedir desculpas pela demora para uma nova postagem. Comprometo-me, com a ajuda da minha amiga Márcia Galindo, a coninuar postando com mais frequência.

Hoje falo sobre mais um personagem, personagem este que estará no meu livro. Um vizinho que infeizmente não conhecia ate então (sinais da vida moderna que não nos deixa conhecer nossos vizihos)

Na época, era um adolescente que aprendeu com o pai, o policial Luiz Alves Siqueira, a sempre prestar obidiência. No contato com amigos do pai, quando menor queria ser juiz. Mas o regime Militar mudou a vida de muitos.

Edson Costa de Siqueira, estudante, que antes só pensava em tomar coca-cola com rum e ouvir músicas, percebeu a dificuldade em se reunir com seus amigos, no pós 1964. Tudo era motivo para desconfiança. Tudo era vigiado.

Achou no humor, na forma de desenhos e charges, uma via de expressão,de dar sua opinião. A pichação também foi outra via para gritar para o mundo que algo estava errado. E foi por causa do humor e da vontade de abrir os olhos dos cidadãos caruaruenses, sejam eles feirantes, estudantes ou amigos, que fez com que seu próprio pai o acordasse em um domingo de manhã e lhe desse voz de prisão.

Na prisão, sofreu tortura, psicológica ou física. Passou poucos dias na cadeia, solto por um apelo de seu pai que não queria ver seu filho acusado injustamente.Teve que sair de Caruaru, sua vida corria perigo, seus passos eram vigiados. Ele lembra que, não podia encontrar dois amigos e conversar banalidades da juventude, que algum "vigia" da Ditadura já os repreendia.

Viajou para Rio de Janeiro, depois para Manaus, Minas Gerais e, por fim, para Afogados da Ingazeira onde se refugiou e, com o apoio do então bispo diocesano Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho, continuou a sua militância política.Lá, retomou sua vida, restou serviços para a SANEPE (atual COMPESA). Depois, por concurso, foi admitido na EMATER, mas, devido à sua aprovação, também, no Banco do Brasil (concurso prestado em Salvador-BA), optou pela mudança.

No ano seguinte - 1974 - iniciou a graduação em Agronomia na Faculdade de Patos, na Paraíba. Com muita dificuldade participou durante um ano, mas,trancou o curso.

Foi membro do Programa de Educação Política da Diocese de Afogados da Ingazeira e produtor e apresentador dos programas “MPB-SHOW”, “MOMENTO BRASIL” e “O REPÓRTER PENINHA” na Rádio Pajeú de Educação Popular.

Passou por Rio Branco (Acre) e voltou a Caruaru em 1985. Graduou-se em Direito pela FAVIP, em Caruaru, temrinando o curso em 2009.Nunca pensou em desistir, sempre lutou pelo que quis. E essa sempre foi uma características da juventude daquela época.

Ele viu este blog e me procurou. Espero que fique assim como eu, feliz por poder, hoje, falar e se expressar livremente, sobre o que aconteceu naquela época.

Abraços

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Os dois lados da moeda

 Ao começar a escrever o blog e o TCC, muitas pessoas questionavam quanto a minha posição política. Lógico que tenho uma opinião acerca dos partidos e ideologias políticas, mas o grande intuito destes trabalhos é me ausentar sobre o que aconteceu durante o período da Ditadura Militar. Lógico, me abstenho, mas não fecho os olhos ao que aconteceu a milhares de pessoas, que foram afetadas direta ou indiretamente.

Tem aquela velha história, que tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim, que tudo é questão de ponto de vista. Acredito que isso também se estenda a pessoas. E, assim apresento mais um personagem da Ditadura em Caruaru, que pode provocar grandes controvérsias.

Drayton Jayme Nejaim, caruaruense nascido em dois de novembro de 1929. Foi prefeito de Caruaru entre os anos de 163 a 1969 e 1976 a 1982. Então, era o chefe maior do executivo municipal, durante do golpe de 1964. A partir da sua ideologia partidária, você pode conhecer vários “Drayton’s” .

Estudou em Recife e em São Paulo, onde concluiu o ensino médio científico.  Concluiu o bacharelado na Faculdade de Direito do Recife, aos 22 anos idade e assim que se formou, elegeu-se deputado estadual. Dez anos depois, com 32 anos, tornou-se prefeito de Caruaru. O temperamento forte, por vezes violento, e radicalismo ideológico, Drayton Nejaim, contrastava com sua via de atuação, onde era considerado líder de atuação popular.

Viabilizou a construção de 15.400 casas populares em Caruaru, formando as Cohabs 1, 2 e 3 que abrigam 60.000 caruaruenses ou 22% da população, em números atuais. Criou os bairros Nova Caruaru e Petrópolis e construiu a sede atual da Prefeitura, concentrando nos edifícios as secretarias da cidade, que tiveram suas atividades integradas. Promoveu o calçamento e saneamento de 300 ruas e avenidas.

Trouxe para Caruaru, o Colégio e o Pronto Socorro Estadual. Instalou a Tecasa (Telefônica de Caruaru S.A), a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros. Em sua Administração concebeu o distrito industrial e o Serviço Social do Comércio (Sesc). Todas estas iniciativas, além de pioneiras entre as cidades do interior foram instaladas em terrenos cedidos pela Prefeitura, onde funcionam até hoje, além de outras obras.
Seus grandes feitos para a população caruaruense, reconhecidos até hoje, não foram suficientes para apagar da memória de muitos outros caruaruenses um homem que apoio o golpe. Comunistas, esquerdistas, muitos até os dias atuais, esboçam certa aversão ao falar de Drayton.

“Caruaru na época (do Golpe Militar) era gerenciada por uma pessoa retrógrada, anti-social e sem princípios, que vinha recebendo apoio dos militares”, diz Severino Quirino.

Drayton se encaixava no perfil de muitos políticos da época da Ditadura. Trouxe grandes benefícios para a população, mas também contou com apoio dos militares para combater a tão falada subversão, que prejudicava a moral e os bons costumes da sociedade. Era o disfarce para algumas atrocidades cometidas nesta época.

Se Drayton era um homem bom ou mau, não posso julgar. Posso sim afirmar, que ele foi de grande importância para a construção de mais um capítulo da história caruaruense. Ele morreu no dia 14 de agosto de 2010, vítima de complicações por causa do câncer de pulmão.